sexta-feira, 5 de junho de 2015

Trechos #26

- Tom, não deixe ninguém divertir-se à sua custa. Tudo é pessoal, todo pedacinho de negócio. Todo pequeno aborrecimento que um homem tem de engolir todos os dias é sua vida pessoal. Chamam isso de negócio. Muito bem. Mas é absolutamente pessoal. Você sabe o que eu aprendi com isso? Com Don Corleone. Meu velho. O Padrinho. Se um raio atingisse um amigo seu, o velho tomaria isso comu um caso pessoal. Ele considerou meu ingresso no Corpo de Fuzileiros Navais como um caso pessoal. Isso é o que o faz grande. O Grande Don. Ele toma tudo como caso pessoal. Como Deus. Ele conhece até as penas que caem da cauda de um pardal ou qualquer outra coisa que ocorra. Certo? E você sabe de alguma coisa? Acidentes não acontecem a pessoas que tomam acidentes como insulto pessoal. Assim, cheguei tarde, muti bem, mas estou vindo ainda a tempo. É bem certo, estou tomando esta cara quebrada como um caso pessoal; é bem certo, tom a tentativa de Sollozzo de matar meu pai como um caso pessoal.

Deu uma gargalhada e prosseguiu:

- Diga ao velho que aprendi isso com ele e que estou contente por ter tido a oportunidade de pagar o que ele fez por mim. Ele foi um bom pai.
O Poderoso Chefão - Mario Puzo

sábado, 30 de maio de 2015

Trechos #25

O moribundo balançou a cabeça. Afastou os rapazes e a família a beira da cama; com a outra mão pendurou-se firmemente em Don Corleone. Tentou falar. Don Corleone baixou a cabeça e se sentou na cadeira ao lado da cama. Genco Abbandando balbuciava algo a respeito da infância dos dois. Então, seu s olhos pretos como carvão apresentavam ar zombeteiro, e ele sussurrou. Don Corleone inclinou-se mais. Os presentes àquela cena ficaram espantados ao verem lágrimas correrem pleas faces de Don Corleone, enquanto ele balançava a cabeça. A voz trêmula se tornou mais alta, enchendo o quarto. Com um esforço torturante, sobre-humano, Abbandando levantou a cabeça do travesseiro, sem enxergar nada, e apontou o dedo indicador esquelético para Don Corleone.

- Padrinho, Padrinho - gritou cegamente -, salve-me da morte, eu lhe suplico! Minha carne está queimando, meus ossos e sinto vermes comerem meus miolos. Padrinho cure-me, você tem poder para isso, enxugue as lágrimas da minha pobre mulher! Brincamos juntos na aleia quando crianças, e agora você deixará que eu morra, quando tenho medo do inferno por causa dos meus pecados? - Don Corleone manteve-se calado. - É o dia do casamento da sua filha - prosseguiu o moribundo -, você não pode recusar-me isso.

Don Corleone falou então de modo sereno e grave, a fim de responder àquele delírio blasfemo.

- Meu velho amigo - disse ele -, eu não tenho tais poderes. Se eu tivesse, seria mais misericordioso do que Deus, creia-me. Mas não tenha medo da morte e não tenha medo do inferno. Eu farei rezar uma missa por sua alma toas as noites e todas as manhãs. Sua mulher e sua filha rezarão por você. Como pode Deus punir você com tantos apelos de misericórdia.
O Poderoso Chefão - Mario Puzo

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Trechos #24

- E você, meu afilhado, agora não tem talento suficiente. Quer que eu lhe arranje um emprego no caminhão de cascalho com Nino? - Como Johnny não respondeu Don Corleone prosseguiu: - A amizade é tudo. A amizade é mais do que talento. É mais do que governo. É quase igual à família. Jamais se esqueça disso. Se você tivesse levantado um muro de amizades, não teria de me pedir ajuda. Agora me diga, porque você não pode cantar? Você cantou tão bem no jardim. Tão bem quanto Nino.
O Poderoso Chefão - Mario Puzo

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Trechos #23

- Não posso casar novamente com Ginny, não da maneira que ela quer. Tenho de jogar, tenho de beber, tenho de sair com os meus amigos. Mulheres bonitas me perseguiam, eu nunca resisti a elas. Depois eu me sentia como um canalha voltando para Ginny. Meu Deus, não posso voltar a toda essa vida inútil.

Era raro Don Corleone mostrar-se exasperado.

- Eu não falei para casar novamente. Faça o que quiser. É bom que você deseje ser pai das suas filhas. O homem que não é pai das suas filhas nunca pode ser um homem verdadeiro. Então, você pode fazer com que a mãe delas o aceite novamente. Quem disse que você não pode vê-las todo dia? Quem disse que você não pode viver na mesma casa? Quem disse que você não pode viver a sua vida exatamente como deseja?
O Poderoso Chefão - Mario Puzo

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Trechos #22

- Eu não queria envolvê-lo em dificuldades - murmurou Bonasera.

Don Corleone levantou a mão.

- Não. Não fale. Você achava a América o paraíso. Você tinha um bom negócio, tinha uma vida boa, pensava que mundo era um lugar inocente onde você poderia obter o prazer que desejasse. Você nunca se cercou de amigos verdadeiros. Afinal de contas, a polícia o guardava, havia tribunais de justiça, você e os seus não podiam sofrer mal algum. Você não precisava de Don Corleone. Muito bem. Meus sentimentos foram feridos, mas não sou desse tipo de pessoa que força sua amizade àqueles que não dão valor e ela- àqueles que não me levam muito em conta.

Don Corleone fez uma pausa e lançou ao agente funerário um riso irônico e cortês.

- Agora, você vem a mim e diz: "Don Corleone, faça justiça." E você não pede com respeito. Não me oferece sua amizade. Você vem a minha casa no dia do casamento da minha filha e me pede para matar, dizendo - aqui a voz de Don Corleone fez uma imitação desdenhosa - "pagarei o que o senhor pedir." Não, não estou ofendido, mas o que fiz para você me tratar de modo tão desrespeitoso?
O Poderoso Chefão - Mario Puzo